Robinson Crusoe - Daniel Defoe


A obra de Daniel Defoe foi publicada em 1719, na Inglaterra, momento de grande desenvolvimento da sociedade burguesa consequente da revolução industrial. Defoe pertencia à classe média e escrevia em inglês coloquial em prosa narrativa, algo incomum para a época. Robinson Crusoe reflete não só o pensamento de seu autor, mas da sociedade da época, com grandes influências iluministas e racionais. A obra é considerada a inauguração do romance moderno.

Daniel Defoe. Fonte.


O romance é escrito em forma de autobiografia do personagem título. Crusoe era um jovem que desafiou o destino escolhido para si pelos pais e decidiu tentar a vida no mar, em busca de aventuras. Após alguns episódios aventurescos, incluindo uma passagem pelo Brasil, Crusoe encontra-se preso em uma ilha onde, à primeira vista, está sozinho. A solidão e separação da sociedade fazem com que ele passe a dialogar com sua ideia de Deus e fazer reflexões sobre sua vida até então e como suas escolhas o teriam levado até alí. Ele mantém diários detalhados de suas tarefas, onde registra a maneira cientificista e racional como aborda sua situação de náufrago.

Tudo muda quando ele descobre que existem outras pessoas na ilha, através de evidências como ossos humanos e pegadas na areia. Ele passa a debater consigo mesmo sobre a natureza do canibalismo e qual seria seu papel em interferir na dinâmica social do povo que alí vivia. Ele apenas se protege mais e toma precauções para manter seus pertences.


Robinson Crusoe e Sexta-Feirade John Charles Dollman. Fonte.


Uma das questões mais marcantes do livro é a relação entre Crusoe e o personagem Sexta-Feira. Ele é resgatado dos canibais por Crusoe e passa a viver em sua companhia. Crusoe ensina a língua e os costumes religiosos para Sexta-Feira, tratando-o como um 'bom selvagem' que estaria naturalmente apto e aberto à evangelização e aos benefícios da civilização.

“and thus, by degrees, I opened his eyes. He listened with great attention, and received with pleasure the notion of Jesus Christ being sent to redeem us” 
“e então, aos poucos, eu abri seus olhos. Ele ouviu com muita atenção, e recebeu com prazer a noção de Jesus Cristo ter sido enviado para nos redimir.”


Sexta-feira é obviamente visto por Crusoe como um escravo, inferior a seu amo, e que ganha favores de seu dono; não como um companheiro. Isso pode ser notado em diversas passagens, como segue:

“At last he lays his head flat upon the ground, close to my foot, and sets my other foot upon his head, as he had done before; and after this made all the signs to me of subjection, servitude, and submission imaginable, to let me know how he would serve me so long as he lived.”

“Afinal ele deita sua cabeça sobre o chão, próxima a meu pé, e coloca meu outro pé sobre sua cabeça, como havia feito antes; e depois disso ele fez todos os sinas de subjugamento, servidão e submissão imagináveis, para me informar de que me serviria enquanto vivesse.”


Sexta-Feira se submete a Crusoe. Ilustração de autor desconhecido. Fonte.

A visão de Crusoe sobre Sexta-Feira é uma extensão daquele que mostra sobre os escravizados quando estpa no Brasil: apesar de humanos, não são tão dignos quanto os brancos civilizados.

Robinson Crusoe é um livro que faz um elogio à lógica protestante do valor do trabalho como superação. O personagem título supera todas as dificuldades através de seu esforço e raciocínio lógico, indo de jovem despreparado e cheio de impulsos a homem bem sucedido e puramente racional.

Tom Hanks e a releitura de Sexta-Feira no filme O Náufrago. Fonte.


A história foi largamente adaptada e publicada em versões reduzidas. Na TV e cinema também se mostra viva até hoje, tendo aparecido em adaptações como Gilligan's Island (seriado americano da década de 1960), Perdidos no Espaço (também da década de 1960 – ambientada, obviamente, no espaço) e no filme O Náufrago (2000).




















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