O Gato Preto - Edgar Allan Poe

Fonte

Em “O Gato Preto” o protagonista narra a delicada dinâmica entre a loucura e a sanidade. Trata-se de um homem que, apesar de aparentemente dócil,mostra-se capaz de atos terríveis, acabando por matar sua mulher em um momento de raiva e dispor do corpo dentro da estrutura de uma parede. Publicado pela primeira vez em 1843, o conto trata também da temática da culpa: levado ou não por motivos sobrenaturais, o protagonista acaba por levar a polícia a descobrir seu crime quando bate na parede para mostrar o quão sólida é a construção de seu lar, fazendo com que o temido gato preto miasse de dentro da sepultura improvisada. Dessa forma, as ações do protagonista espelham-se na construção da literatura de Poe: cada ação tem sua reação e nada está lá por acaso.

Edgar Allan Poe nasceu em Boston, nos Estados Unidos, em 1809. Seus pais morreram quando ele ainda era muito pequeno, e o garoto foi adotado por uma família de posses que assegurou que ele tivesse uma refinada e cara educação escolar. Um dos aspectos mais marcantes de sua vida particular, no entanto, é sua relação com o álcool, apontada por muitos como estopim para suas narrativas e poemas, frequentemente centradas no limiar entre loucura e sanidade. Limiar este que estaria constantemente presente em sua vida, até sua morte, envolta em mistério, em 1849.

Fonte

Os primeiros parágrafos do conto são especialmente interessantes por trazerem semelhança com outro conto famoso de Poe, “O Coração Delator” (The Tell-Tale Heart). A semelhança consiste no fato de que em ambos os contos os protagonistas começam tentando convencer o leitor de sua sanidade e inocência, apesar dos fatos a serem narrados a seguir. No segundo parágrafo de “O Gato Preto”, o protagonista atesta sua natureza dócil frente ao leitor, enfatizando seu apreço por animais, a despeito de sua relação com o tão temido gato:

"Já na minha infância era notado pela docilidade e humanidade do meu carácter. Tão nobre era a ternura do meu coração, que eu acabava por tornar-me num joguete dos meus companheiros. Tinha uma especial afeição pelos animais e os meus pais permitiam-me possuir uma grande variedade deles. Com eles passava a maior parte do meu tempo e nunca me sentia tão feliz como quando lhes dava de comer e os acariciava. Esta faceta do meu carácter acentuou-se com os anos, e, quando homem, aí achava uma das minhas principais fontes de prazer. Quanto àqueles que já tiveram uma afeição por um cão fiel e sagaz, escusado será preocupar-me com explicar-lhes a natureza ou a intensidade da compensação que daí se pode tirar. No amor desinteressado de um animal, no sacrifício de si mesmo, alguma coisa há que vai direto ao coração de quem tão frequentemente pôde comprovar a amizade mesquinha e a frágil fidelidade do homem."

“O Gato Preto” é uma história que, mais de 150 após sua publicação, já faz parte do imaginário coletivo da população ocidental. O tema da culpa, especialmente pungente, vai ao encontro dos ensinamentos judaico-cristãos que pregam a punição pelos pecados e a confissão como forma de expiação. Os atos do protagonista levam-no a uma espécie de confissão no fim do conto, como se pedindo que fossem perdoados os pecados que cometera.

"Você viu o Bisonho por aí? Faz dias que ele sumiu." Fonte

A obra de Poe já foi muito adaptada para o cinema, mas recentemente a série brasileira “Contos do Edgar” fez um trabalho muito interessante, adaptando as narrativas de Poe a um universo contemporâneo e ambientado no Brasil. Veja o primeiro episódio, disponível integralmente no Youtube:


Comentários

Postagens mais visitadas