Objetos Sólidos - Virginia Woolf

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Lixo para uns, ouro para outros. “Objetos Sólidos” acompanha uma jornada de ressignificação de valores. Os jovens John e Charles andam juntos em uma praia, discutindo temas importantes relativos ao governo inglês. John é um jovem candidato ao parlamento. Um encontro inesperado com um objeto muda o rumo de sua história, fazendo-o refletir sobre o que é o sucesso e o que é o valor das coisas. John encontra um pedaço de vidro e por um momento retoma a curiosidade de criança que se pergunta a história daquela peça: dá a ela uma história - seria a joia de uma princesa ou o adorno de uma baú do tesouro? A partir daquele momento John passa a procurar, cada vez mais intensamente, peças perdidas que também apresentem a qualidade única que vira naquele pedaço de vidro verde, até que essa busca se transforma em sua única atividade. John negligência suas ambições anteriores, passa a ser mal visto nos círculos políticos e, por fim, até mesmo Charles, seu amigo e confidente, vai embora e o deixa com sua peculiar coleção.

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Virginia Woolf nasceu em 1882, em Londres, na Inglaterra. Sua família tinha posses e por isso teve a oportunidade de ter uma educação comum apenas entre os homens de sua época. Teve uma vida marcada por distúrbios psiquiátricos que por vezes a levaram à internação, culminando em uma morte por suicídio em 1941, aos 59 anos. Sua literatura é marcada por pelo discurso direto livre, aproximando-se do fluxo de consciência - muito do que acontece nos escritos de Virginia se dá na mente dos personagens ou do narrador. Além disso, também falou muito das capacidades das mulheres e de seu papel na literatura.

É possível notar a peculiaridade de Virginia no começo de “Objetos Sólidos”, quando John coleta o pedaço de vidro e o narrador especula sobre o ímpeto que o levou a fazê-lo. Dá ao objeto, aparentemente inanimado, uma história e uma alma:


"He did not see, or if he had seen would hardly have noticed, that John, after looking at the lump for a moment, as if in hesitation, slipped it inside his pocket. That impulse, too, may have been the impulse which leads a child to pick up one pebble on a path strewn with them, promising it a life of warmth and security upon the nursery mantelpiece, delighting in the sense of power and benignity which such an action confers, and believing that the heart of the stone leaps with joy when it sees itself chosen from a million like it, to enjoy this bliss instead of a life of cold and wet upon the high road. “It might so easily have been any other of the millions of stones, but it was I, I, I!”

"Não viu, ou se visse provavelmente não o teria notado, que John, depois de fitar um momento o bloco, e como que hesitante, enfiou-o no bolso. Esse impulso, também, podia ter sido o impulso que leva uma criança a apanhar um seixo num caminho cheio deles, e a prometer-lhe uma vida de calor e segurança sobre a lareira do seu quarto, deliciando-se com a sensação de poder e benignidade que pressupõe um tal gesto, e acreditando que o coração da pedra pulsa de alegria ao sentir-se ela escolhida entre milhões de outras semelhantes, ao gozar dessa felicidade em lugar de uma existência fria e húmida sobre a estrada."Poderia ter sido qualquer outra entre os milhões de pedras, mas fui eu, eu, eu!"


Virginia Woolf é uma de minhas escritoras preferidas. O que mais me atrai em suas narrativas é justamente a falta de ação - a sensação é como se o tempo se dobrasse sobre si mesmo, como se o barulho existisse dentro do silêncio - a ideia de dois mundos separados que se desenrolam em paralelo: a realidade interna e a realidade interna. Pensando nisso, podemos especular que tenha muito a ver com a vida de Virginia, uma mulher a frente de seu tempo que viveu presa dentro de si mesma. Uma referência interessante para quem gostaria de entender melhor Virginia Woolf é o filme “As Horas” (The Hours), de 2002.

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