Memórias do Subsolo - Dostoiévski

Nesta novela de Dostoiévski temos um personagem chamado "o homem do subsolo" que não quer ser identificado pois reconhece que sua consciência o atormenta e perturba. Assim, ele se define como um homem doente infeliz e que não suporta a vida tal como ela se apresenta. O livro é dividido em duas partes. No começo o narrador tem uma longa conversa existencialista conosco enquanto leitores. Nesta parte, até simpatizamos com ele porque é impossível não nos identificarmos com suas questões, embora seja tudo muito confuso. Há muitas afirmações fortes por parte deste narrador, por exemplo 

Deixem-nos sós, sem livros, e imediatamente vamos nos confundir e nos perder; não saberemos a quem nos unir, a quem seguir; o que amar e o que odiar, o que respeitar e o que desprezar. Incomodamo-nos até em ser gente, gente com corpo e sangue real, próprio; temos vergonha disso, consideramos uma ignomínia e fazemos de tudo para ser uma espécie inexistente de homens gerais."

Outra circunstância ainda me atormentava: justamente que ninguém parecia comigo, e eu não me parecia com ninguém. “Sou sozinho e eles são todos”, pensava, e caía em melancolia. Só isso deixa evidente que eu ainda era bem criança."

Em suma, pode-se dizer tudo da história universal, tudo que puder vir à cabeça da imaginação mais perturbada. Só não dá pra dizer uma coisa: que é sensata. Os senhores vão se engasgar na primeira palavra. "


A dualidade do ser humano e a crítica social são o ponto principal da narrativa e isto fica exposto na segunda parte do livro, onde teremos dois eventos principais. Um jantar com ex colegas, onde o homem do subsolo faz uma crítica social as pessoas superficiais, em contraste com a sociedade russa da época. Em seguida temos o encontro dele com uma prostituta. Nestes dois eventos, a consciência do personagem é narrada o tempo todo e ele cria muitos planos em relação ao que fazer, porém, tudo é muito dual e sem sentido, contraditório e paradoxal. Ele supõe que irá se vingar dos colegas através da violência, parte para um briga ridícula, se arrepende, deseja brigar de novo, enfim, é um confusão mental onde nada ou quase nada do que ele fica maquinando se torna de fato realidade. Com a prostituta não é diferente, ele é completamente mau, ruim. Em um primeiro momento ele diz estar a apaixonado por ela de uma maneira sublime, instantes depois ela a despreza e sai correndo dali, uma neurose total... 

   

Confusão e reflexão é o que Dostoiévski nos proporciona de maneira genial aqui neste romance. Contudo, todas as maquinações do homem do subsolo se tornam reais quando o comparamos  com Raskólnikov em Crime e Castigo, onde o personagem não só fantasia sobre suas ações como executa tudo de maneira calculada e racional, ao mesmo tempo alheio as consequências de seus atos.  

Comentários

Postagens mais visitadas