Se um viajante numa noite de inverno - Italo Calvino




Calvino é conhecido pela diversidade de seus romances, desde seus contos fantásticos como um menino que resolveu subir em uma árvore para nunca mais descer, passando pelas poéticas cidades invisíveis e as muitas formigas argentinas em seus amores difíceis. Romance, fantasia, conto, história e estórias preenchem as páginas do Cubano. Segue um trecho do capítulo inicial de Se um viajante numa noite de inverno:


“Não que você espere algo de especial deste livro em particular. Você é daquelas pessoas que, por princípio, já não esperam nada de nada. Há tanta gente, mais jovem ou mais velha que você, que vive à espera de experiências extraordinárias — dos livros, das pessoas, das viagens, dos acontecimentos, de tudo que o amanhã guarda em si. Você não. Você já aprendeu que o melhor que se pode esperar é evitar o pior. É essa a conclusão a que chegou, tanto na vida privada como nas questões gerais e nos problemas do mundo. E quanto aos livros? Aí está: justamente por ter renunciado a tantas coisas, você acredita que seja certo conceder a si mesmo o prazer juvenil da expectativa num âmbito bastante circunscrito, como este dos livros, em que as coisas podem ir bem ou mal, mas em que o risco da desilusão não é grave. Pois então você leu num jornal que foi lançado Se um viajante numa noite de inverno, o novo livro de Italo Calvino, que não publicava nada havia vários anos. Passou por uma livraria e comprou o volume. Fez bem.”


Aqui ele nos faz entrar numa longa jornada em busca do final de seu romance, ou seria melhor dizer: na busca pelos finais de seus romances?! Neste livro você é o protagonista leitor! Através deste envolvimento a leitura provocará em você reflexões sobre todas as partes que compõem  a produção de livros: a escrita, a inspiração, a edição, os plágios, os estudantes, os autores e tantos outros acontecimentos que permeiam o universo do livro e também das pessoas envolvidas com este objeto. Com uma escrita impecável, Calvino descreve o leitor médio através da figura de Ludmila (personagem principal) e seus hábitos para com o livro, o que faz ao entrar em uma livraria, a descrição de sua casa e como organiza seus livros, onde costuma ler etc. 


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Em uma narrativa dupla temos dois planos de texto. Em um primeiro plano o texto apresenta dois leitores que buscam juntos encontrar o final do romance que começaram a ler. Contudo apesar de todos os esforços e buscas os eles nunca conseguem encontrar a continuação do romance  inicial e sempre acabam iniciando a leitura de um outro romance que sempre desperta um interesse maior que o último, criando um ciclo vicioso até o momento em que o narrador nos mostra que nos tornamos leitores personagens, pois juntamente com os mocinhos do primeiro plano ansiamos pelos finais dos romances e mais ainda pelo desenrolar de nosso romance em questão: se um viajante numa noite de inverno, assim, nos identificamos e nos tornamos o Leitor e a Leitora.

No segundo plano do texto temos as narrativas (que segundo o próprio Calvino poderiam ser publicados como contos separados) que compõem o livro. Segue o nome de cada uma das estórias: Se um viajante numa noite de inverno, de Italo Calvino; Fora do povoado de Malbork, do polonês Tatius Bazakbal; Debruçando-se na borda da costa escarpada, do poeta simério Ukko Ahti ; Sem temer o vento e a vertigem, do címbrico Vorts Viljandi; Olha para baixo onde a sombra se adensa, de Bertrand Vandervelde; Numa rede de linhas que se entrelaçam, de Silas Flannery; Numa rede de linhas que se entrecruzam, Flannery/ MaranaNo tapete de folhas iluminadas pela lua, de Takakumi IkotaAo redor de uma cova vazia, de Calixto BandeiraQue história espera seu fim lá embaixo? de Anatoly Anatolin. É impossível não nos identificamos com o famoso Ulisses passando por diversas aventuras ao longo dos 12 capítulos, para, no final finalmente chegarmos a nossa Ítaca. 

Neste link: https://www.youtube.com/watch?v=OegFh4vwExI você encontra uma entrevista com o autor. 


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